Urbanização e transporte sustentável

Vivemos momentos difíceis, que comprometem o nosso cotidiano, sem esquecer, é claro, que antes disso, o ônibus vem padecendo da não assiduidade do Estado quanto ao promover melhores serviços e um atendimento de qualidade

Editorial

Há muitos dilemas na relação entre cidade e transporte. A mobilidade urbana é um tema recorrente que sugere mil pensamentos e propostas que visam dar uma conotação de bem-estar para as pessoas e suas necessidades de deslocamento. Porém, os conflitos na estrutura e no espaço urbano proporcionam situações cada vez mais embaraçosas no ir e vir diário e no trato com os serviços de ônibus. A falta de qualidade, o excesso de congestionamentos viários, a não priorização ao sistema, a concorrência com outros modais de transporte, a perda de clientes e a ausência de investimentos e programas governamentais têm sido fatores contínuos nos últimos anos que colocam em xeque o universo da mobilidade feita pelo referido modal.

Não há no horizonte a mobilização governamental que objetiva dar aos serviços de ônibus melhores condições que o façam ser atrativos. No Brasil de hoje, contam-se nos dedos de uma mão os projetos que buscam dar uma imagem próspera ao modal, permitindo que ele acompanhe a modernidade e possa ser eficiente, por meio da implantação de redes de BRT (Trânsito Rápido de Ônibus), particularidade de extrema importância ao contexto urbano.

Vivemos momentos difíceis, que comprometem o nosso cotidiano, sem esquecer, é claro, que antes disso, o ônibus vem padecendo da não assiduidade do Estado quanto ao promover melhores serviços e um atendimento de qualidade. E o futuro se mostra sombrio se não houver mudanças. É como disse recentemente Otávio Cunha, presidente da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), “O transporte público que o passageiro deseja no futuro passa pela conquista da mobilidade realmente sustentável e inovadora, que só poderá existir se for baseada numa rede organizada, integrada e robusta, que cumpra plenamente seu papel social de ofertar um serviço universal, contínuo e com modicidade tarifária”.

E é no tocante à sustentabilidade que determina a razão de sobrevivência do modal. Dois pilares representam muito bem o caráter sustentável – ambiental e econômico. O apelo aos meios de transporte de baixo carbono tem se tornado cada vez maior e já é realidade em muitas cidades pelo mundo, que, preocupadas com o tema, estão investindo em frotas com tração limpa e em tecnologia de ponta. Nesse caso, o apoio governamental é fundamental para que a substituição da frota ocorra, diferentemente do Brasil onde não há fomento para que uma nova realidade faça parte da conjuntura.

Em se tratando do lado financeiro da operação, a rentabilidade é um aspecto que precisa ser observado, pois o transporte coletivo no Brasil é feito por empresas privadas, que efetivam investimentos para a realização de seus serviços, visando ganhos como qualquer outra organização com fins lucrativos. Com a frequente perda de passageiros, o ônibus urbano deixou de ser rentável e sofre com a falta de recursos e o custo operacional crescente. As tarifas não são suficientes para manter equilibrada a operação. Ainda, nas palavras do presidente da NTU, em quase 40 anos, o transporte público coletivo sofreu drástica redução de representatividade na matriz de deslocamento nas áreas metropolitanas do Brasil, vendo sua participação se reduzir de 67% para 28,4% de 1977 a 2014. Não há negócio que se sustenta sem cliente.

Com um processo de sustentabilidade no ambiente urbano podemos contar com uma rede de ônibus que alcance desempenho. Com corredores exclusivos e prioridade, é fato que a operação flua, fazendo com que os gastos sejam reduzidos. O suporte das prefeituras e de outras esferas da governança pública ao investir na contínua melhoria dos serviços também é essencial. Porém, como disse Otávio Cunha em muitos de seus artigos, a ausência de políticas públicas integradas, falta de investimentos em infraestrutura urbana para qualificação das vias, falta de planejamento e racionalização dos sistemas de transportes, e necessidade de fontes extratarifárias para financiar a prestação do serviço de forma equilibrada e a custo reduzido para os passageiros são os grandes empecilhos à evolução do serviço de ônibus no Brasil.

Portanto, a conexão entre urbanização e transporte é de extrema importância para o futuro das cidades. Os próximos prefeitos, eleitos ou reeleitos, precisam considerar em suas administrações esse aspecto, com uma agenda voltada para a implantação de sistemas eficientes de transporte coletivo, com financiamento específico, investimento em infraestrutura e racionalização da rede. Os recursos financeiros existem. Mas, para isso, são necessários projetos bem elaborados, adequados ao desenvolvimento que ressaltem o bem-estar dos habitantes, promovam desempenho operacional e valorizem o meio ambiente.

O transporte coletivo feito pelo ônibus deve ser um programa de Estado e não de governo. Para isso, fortalecer seu conceito é a solução, com programas e ações que visam reverter o quadro negativo instalado no modal. E, o Brasil é um dos grandes mercados mundiais que ressalta a importância do veículo. Entretanto, deixa a desejar quando o assunto é a promoção de seu avanço. O momento é este ou o seu futuro estará comprometido.

Arte – Scania

A melhor maneira de viajar de ônibus rodoviário com segurança e conforto

Ônibus movido a biometano, por Juliana Sá, Relações Corporativas e Sustentabilidade na Scania

Posts Recentes

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *