Recarga elétrica no ponto de parada

O sistema permite que os ônibus sejam carregados nos pontos de parada, durante o período de embarque e desembarque de passageiros

Referência mundial no desenvolvimento de tecnologias de energia e automação, a empresa suíça ABB foca sua estratégia comercial em sistemas de recarga elétrica para ônibus urbanos instalados em pontos para passageiros. De acordo com ela, não é mais novidade que o futuro da mobilidade urbana gira em torno dos veículos elétricos – e, em alguns casos, possivelmente sem motorista.  Mas para quem vive a realidade brasileira, essa tecnologia parece distante. Isso acontece porque o custo de um veículo desses pode ser até 3 vezes maior do que o do modelo tradicional a diesel, o que demanda um investimento muito alto para a troca da frota. Ainda assim, muitos países já estão alterando suas legislações para garantir a mudança das frotas, em nome da diminuição das emissões de poluentes, como é o caso da Colômbia e do Chile.

A ABB ainda ressalta que, além dos custos de produção, existem outros empecilhos que atrasam a adoção dos ônibus elétricos. O principal é em relação à recarga, já que os modelos disponíveis hoje demandam cerca de quatro horas de carga para uma autonomia de 200 quilômetros. Isso implica na necessidade de uma frota muito maior para atender o mesmo número de passageiros, já que o tempo de inatividade dos veículos aumenta. Resultado: os operadores de transporte público não se sentem estimulados para trocar sua frota à combustão por modelos elétricos.

Para isso, desenvolveu uma solução, utilizada com muito sucesso em Genebra, na Suíça, no sistema TOSA, que permite que os ônibus sejam carregados nos pontos de parada, durante o período de embarque e desembarque de passageiros. Assim, o tempo de inatividade e custos operacionais do veículo são reduzidos. A empresa mostra que sua tecnologia empregada no TOSA é revolucionária, pois é extremamente rápida e não requer que o ônibus fique inativo nem vá para uma garagem para ser recarregado. Por meio de um “braço” que se conecta ao veículo no momento do embarque e desembarque de passageiros, o sistema recarrega a energia em aproximadamente 20 segundos. Assim, o ônibus tem energia o suficiente para chegar ao próximo ponto, onde recebe nova carga, e assim sucessivamente. Em Genebra, onde a tecnologia já está em funcionamento, o veículo é recarregado em 13 dos 50 pontos do itinerário.

A revista AutoBus entrevistou Glauco Freitas, vice-presidente de marketing e vendas de Power Grid, da ABB, sobre a perspectiva da empresa quanto a sua tecnologia e a visão de mercado no Brasil.

Recarga elétrica no ponto de parada

Revista AutoBus – Qual é o diferencial do projeto TOSA de outros que já estão em operação pelo mundo?

Glauco Freitas – O TOSA é uma solução de carga de oportunidade ultrarrápida (20 segundos) para ônibus de alta frequência, alta capacidade, em geral articulados e biarticulados e para operações que não disponham de tempo adicional nos terminais para a recarga. Inevitavelmente, quando falamos de mobilidade elétrica, uma das primeiras questões é: Qual a autonomia?

Essa questão faz sentido. Entretanto, nos transportes de massa temos a rota pré-estabelecida, conhecemos a origem, o destino, os pontos de paradas e repetimos isso dia-a-dia. A questão não deveria ser autonomia e, sim, o quão rápido conseguimos carregar antes de chegar no próximo carregador. O tempo de recarga ultrarrápida da tecnologia é equivalente ao tempo de embarque e desembarque dos passageiros e essas cargas são aplicadas em estações de paradas selecionadas.

Mais que tudo, manter um baixo custo (Total Cost of Ownership) está diretamente relacionado a operar uma linha com o mínimo de veículos necessários para uma determinada demanda de passageiros e em condição de igualdade com a solução de ônibus a diesel. Isso significa dizer a mesma frequência, mesmo tempo de trajeto, tempo de parada nos terminais e em especial a mesma quantidade de ônibus comparados com uma frota convencional. Esse é sem dúvida um dos diferenciais da tecnologia TOSA.

Outro diferencial da tecnologia é a instalação de todos os equipamentos no teto do ônibus, incluindo as baterias que nessa solução são reduzidas, liberando 100% do interior dos ônibus para o transporte de passageiros, afinal, esperamos transportar pessoas e não baterias.

AutoBus – A tecnologia de recarga rápida da ABB utilizada no TOSA é a mesma usada em outros sistemas?

Glauco – O TOSA é uma solução de carga de oportunidade ultrarrápida (20 segundos) e possui uma característica que diferencia dos demais sistemas, pois a tecnologia permite que sistemas de transporte de alta capacidade, alta frequência e reduzido tempo de parada nos terminais, em geral atendidos por ônibus articulados e biarticulados, possam ser substituídos por ônibus elétricos sem a necessidade de aumento da frota, como comentado no parágrafo anterior. A autonomia não é uma questão para essa tecnologia.

Recarga elétrica no ponto de parada

AutoBus – Além do TOSA, onde mais a ABB disponibiliza sua tecnologia?

Glauco – A ABB é líder de tecnologia pioneira de energia e automação. Com um histórico de inovação de mais de 130 anos, a ABB é hoje líder em indústrias digitais e no fornecimento de produtos, sistemas e serviços para indústrias e concessionárias. Alguns exemplos onde nossa tecnologia está presente são: carregadores de carros elétricos (Formula E), Yumi – robô colaborativo, shore to ship power – alimentação elétrica de navios -, subestações digitais, monitoramento de transformadores, entre outros.

AutoBus – Hoje, olhamos como desafio para a eletromobilidade o desenvolvimento da bateria e a sua eficiência e capacidade energética. Há mais algum no aspecto tecnológico?

Glauco – Em termos de tecnologia, o conjunto bateria e carregador, é sem dúvida um dos principais pontos de atenção para a eletromobilidade e demandará constantes atualizações e melhorias. As soluções tecnológicas hoje disponíveis precisam ser analisadas com critério e adequadamente selecionadas para cada uma de suas aplicações.

AutoBus – Quanto ao seu maior uso, os custos da inovação ainda são barreiras para a operação em escala. Podemos observar que os poderes públicos de várias cidades ao redor do mundo incentivam a tecnologia por meio de financiamentos, tanto na aquisição dos veículos, como em sua operação. Sem essa solução, não teríamos a maior operação dos elétricos no transporte coletivo?

Glauco – Sem dúvida, o governo tem um papel fundamental no desenvolvimento da eletromobilidade por inúmeras razões, sendo as principais a redução de emissão de poluentes e do ruído. A segurança jurídica, incentivos e regulação desse mercado também são fatores fundamentais para a eletromobilidade.

AutoBus – Qual a visão da ABB para a eletrificação do transporte coletivo brasileiro? Trata-se de um desafio bem complexo, não?

Glauco – Um desafio complexo e seguramente irreversível. Não mais questionamos a realidade da eletromobilidade, a questão é o tempo e a forma que essa mudança se dará. Para uma transição adequada, a participação pública é fundamental com incentivos, regulação e segurança jurídica.

AutoBus – Há alguma estimativa da empresa para que os ônibus elétricos possam estar em maior volume por aqui?

Glauco – Entendemos que a eletromobilidade é uma realidade, a sua transição irreversível e ainda que não se conheça o seu tempo, observamos uma grande movimentação no assunto que poderá ter um crescimento exponencial nos próximos dois ou três anos.

Imagens – Divulgação

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