Prioridade ao coletivo é o melhor caminho para a mobilidade

As faixas exclusivas são só um exemplo das alternativas existentes para melhorar a mobilidade urbana nas cidades, com iniciativas que já têm a simpatia da sociedade

Por Otávio Cunha

Presidente executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).

Medidas simples, que contribuem diretamente para a melhoria da mobilidade urbana em todo o Brasil, já fazem parte da realidade de várias cidades, com excelentes resultados. É o que vem ocorrendo com as soluções de priorização no sistema viário que visam devolver a velocidade e o desempenho perdidos pelos ônibus urbanos nos últimos 20 anos.

Quando falamos em medidas de prioridade, estamos nos referindo desde soluções mais básicas, como faixas exclusivas e corredores de ônibus, a sistemas do tipo BRT (Bus Rapid Transit), que são mais complexos e demandam maior investimento.

A pesquisa Mobilidade da População Urbana 2017 da CNT/NTU mostra que as medidas já implantadas e em operação são bem avaliadas por 62% da população e contribuem significativamente para o bom funcionamento da rede de transportes nos municípios. No entanto, mais da metade dos pesquisados (53,3%) ainda não tem acesso a elas.

O dado é preocupante, assim como o fato de mais de 600 projetos de medidas de priorização e de melhoria da infraestrutura permanecerem no papel, mesmo com previsão orçamentária para esse fim. 

Se o problema é a falta de recursos financeiros, a resposta é direcionar, neste momento, os esforços para medidas de mais curto prazo, que oferecem ótima relação custo/benefício e que apresentam resultados imediatos: investir em projetos de priorização, incluindo corredores e faixas exclusivas. Esse é um dos cinco programas setoriais que integram o documento “Construindo Hoje o Amanhã: Propostas para o Transporte Público e a Mobilidade Urbana Sustentável no Brasil”, elaborado conjuntamente pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Fórum de Secretários e Dirigentes Públicos de Mobilidade Urbana e NTU, que foi entregue em dezembro à equipe de transição do novo governo eleito.

Prioridade ao coletivo é o melhor caminho para a mobilidade
Otávio Cunha

No caso da infraestrutura, o programa foca no universo de 111 municípios com população acima de 250 mil habitantes, que somam no total um sistema viário com 222 mil quilômetros de ruas e avenidas, dos quais 46 mil quilômetros são utilizados pelos ônibus. Para atender às necessidades de melhoria do serviço, o estudo recomenda a adoção de 8.900 quilômetros de priorização para o modal ônibus urbano, a um custo de 18,7 bilhões de reais — um investimento muito baixo, se consideramos que os ganhos podem chegar a 11,5 bilhões de reais por ano, entre redução no tempo de viagem, economia de combustível e redução de poluição decorrentes do aumento da velocidade dos ônibus. Como consequência desse conjunto de ações, teremos a diminuição dos custos do serviço com impacto direto sobre as tarifas.

Modelo para outras cidades brasileiras, São Paulo, que iniciou o dever de casa em 2013, implantou 476 quilômetros de faixas exclusivas naquele ano, com ganho de 17,4% na velocidade operacional dos ônibus e redução de 18,2% no tempo médio de viagem entre 2012 e 2014, segundo estudo do Instituto de Energia e Meio Ambiente. Já foram implantados ou estão em processo de implantação um total de 1.456,3 quilômetros de faixas exclusivas em 41 cidades brasileiras. O número é importante, mas há ainda um longo caminho a percorrer para a conquista de mais e melhores resultados.

As faixas exclusivas são só um exemplo das alternativas existentes para melhorar a mobilidade urbana nas cidades, com iniciativas que já têm a simpatia da sociedade e, em especial, dos usuários, que reconhecem os benefícios das medidas de prioridade. Faltam ainda sensibilidade e vontade política aos nossos gestores públicos para desengavetar mais iniciativas como essas. São medidas relativamente simples, mas comprovadamente capazes de melhorar a qualidade do transporte público por ônibus no Brasil.

Antes que falem da crise econômica, que tenham a mente aberta e a disposição de acolher propostas e sugestões dos que almejam ter um transporte de qualidade. Se faltam bons projetos, temos um bom ponto de partida nas experiências exitosas dos municípios que já estão fazendo sua parte.

Imagens – Arquivo NTU

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