Oportunidade ao biometano no transporte

O biometano é um biocombustível de transformação. Sua origem é do biogás, que pode ser obtido da decomposição de resíduos orgânicos, do lodo do esgoto sanitário e de aterros de lixões

Biocombustível

O biometano foi pauta de recente artigo publicado no jornal Valor Econômico. O combustível poderá ser distribuído pelos dutos da GásBrasiliano, distribuidora de gás da região noroeste de São Paulo. Em parceria com a Zeg Biogás, a meta da empresa é conectar seus gasodutos com as agroindústrias que possuem alto potencial de produção do biogás – usinas de açúcar e etanol. De acordo com a matéria, 140 usinas poderão ser conectadas aos dutos, fornecendo mais de 1 milhão de metros cúbicos por dia.

O biometano é um biocombustível de transformação. Sua origem é do biogás, que pode ser obtido da decomposição de resíduos orgânicos, do lodo do esgoto sanitário e de aterros de lixões e, que após seu processamento de purificação, resulta no biometano. A queima do metano vindo das referidas fontes acima tem um alto poder nocivo à atmosfera, causando um dano irreversível ao meio ambiente. Hoje, segundo o artigo veiculado no jornal, a produção brasileira de biometano está na casa dos 2 milhões de metros cúbicos diários, mas pode   chegar a 17 milhões de metros cúbicos por dia em 2030. Além de poder reduzir expressivamente as emissões poluentes, ele é renovável.

E o que o combustível tem a ver com o transporte? Muito. Ele é uma alternativa viável para incrementar a substituição do óleo diesel nas frotas de ônibus urbanos, por exemplo, com uma pegada de carbono bem interessante, com a sua característica estrutural, própria para ser utilizada em motores de combustão interna.

E como isso pode impactar o setor de transportes, principalmente o coletivo urbano? De acordo com Alex Gasparetto, diretor-presidente da GasBrasiliano, de forma geral não há restrições para substituição do diesel pelo biometano e os ganhos com essas mudanças são substanciais. “O biometano poderá, por exemplo, substituir o diesel em frotas de veículos leves e pesados das usinas de açúcar e etanol, além da aplicação em máquinas agrícolas. Especialmente em relação ao transporte coletivo urbano, trata-se de uma excelente oportunidade, tanto do lado econômico, como do lado ambiental, sendo menos poluente, podendo também contribuir para as questões de saúde em grandes centros. Estudos e parcerias veem sendo realizados com consultoria especializada para a análise de viabilidade técnica e econômica para a sua implementação no uso do transporte coletivo. Vale destacar que a geração de biometano em usinas permite disponibilizar o gás em municípios ainda não atendidos pelas redes de distribuição, possibilitando universalizar o acesso a esse energético para mais lugares e pessoas.

Oportunidade ao biometano no transporte
Alex Gasparetto, diretor-presidente da GasBrasiliano

Gasparetto informou que a GasBrasiliano vem trabalhando no sentido de expandir o fornecimento do gás natural e o biometano, investido em projetos de pesquisa e desenvolvimento para a substituição do diesel. “Um exemplo foi a interligação, em agosto deste ano, da primeira usina de açúcar e etanol do Brasil à rede de distribuição de gás natural. A Usina Santa Cruz, unidade São Martinho localizada no município de Américo Brasiliense, SP, está sendo abastecida com gás natural para testar caminhões com tecnologia 100% gás e com o sistema híbrido diesel x gás. No momento, temos diversos outros projetos em estudo seguindo a mesma linha da realização na Usina Santa Cruz. O uso do gás natural veicular é uma tecnologia estabelecida e a ampliação do seu uso em frotas é uma das estratégias da GasBrasiliano para a expansão do seu mercado. A tarifa do GNV frotas é específica, sendo mais vantajosa em comparação ao custo do diesel”, explicou.

No tocante ao Brasil pode se tornar um expressivo mercado de biometano, se destacando mundialmente quanto a pegada de carbono e redução das emissões poluentes, Gasparetto analisou que a inserção do biometano nas redes de distribuição permitirá que o gás seja comercializado em grande escala no mercado das distribuidoras. “Essa escala, por sua vez, irá gerar os incentivos para o aumento dos investimentos em produção de biometano, em especial no setor sucroenergético. As estimativas são de um potencial de produção de cerca de 30 milhões de m³/dia de biometano somente na região noroeste do estado de São Paulo, o suficiente para suprir toda a demanda atual de gás no estado e ainda direcionar o excedente para a substituição do diesel nas frotas pesadas. Certamente esse seria um feito notável no tocante à pegada de carbono e colocaria o Brasil em posição de destaque mundial”, ressaltou.  

E como mudar o atual quadro da matriz energética do transporte brasileiro, com predominância do diesel? Para o diretor-presidente da GasBrasiliano, essa mudança já começou, sendo apenas uma questão de tempo para a entrada de novos players que irão fortalecer e intensificar essa transformação de cenário. “Nossa parceria com a ZEG Biogás, por exemplo, tem o condão de alavancar o uso do biometano e do gás natural no setor de transportes. Tanto as frotas das usinas poderão ser beneficiadas quanto os usuários de veículos leves e pesados que abastecem nos postos de GNV atendidos pela nossa empresa. O gás natural e o biometano são totalmente intercambiáveis, então, essa integração do setor sucroenergético com a rede de distribuição de gás natural que está sendo construída por nossa parceria, permitirá o aumento da participação do gás e do biometano no setor de transportes”, observou.

Algumas cidades colombianas investiram em frotas de ônibus urbanos equipados com motores a gás. Esse exemplo pode chegar ao Brasil? Gasparetto respondeu que, para que isso ocorra, toda a cadeia deve ser desenvolvida com a disponibilização de veículos, equipamentos e oficinas especializadas. “O aumento da oferta de gás natural e biometano, em especial nas cidades do interior, também é um fator que pode incentivar o uso de veículos movidos a gás. Consideramos totalmente factível o cenário de frotas de ônibus urbanos movidas a gás natural ou biometano. Considerando que dispomos de relevante quantidade de vinhaça nas usinas de açúcar etanol que podem gerar o biometano, especialmente na área de concessão da GasBrasiliano, e que essas usinas podem abastecer sistemas isolados em cidades do interior, a exemplo do projeto Cidades Sustentáveis que estamos desenvolvendo em parceria com a Usina Cocal, que prevê o atendimento aos municípios de Pirapozinho e Presidente Prudente por intermédio do biometano gerado pela Usina Cocal localizada em Narandiba, SP, estão dadas as condições de oferta para a ampliação do uso do gás e do biometano nas frotas de ônibus urbanos municipais”, enfatizou ele.

Oportunidade ao biometano no transporte
Usina de produção de biogás

Como forma de estimular a maior escala de produção e comercialização do biometano e outros biocombustíveis, em junho deste ano, foi formada a Biocoalizão pela Ubrabio, Única, Frente Parlamentar pela Valorização do Setor Sucroenergético e Frente Parlamentar do Biodiesel. O intuito é unificar as pautas em comum e favorecer a economia circular do País, além de incentivar a melhor qualidade do ar. Para essa união, a bionergia precisa ganhar maior espaço, visando um desenvolvimento sustentável nos ambientes urbanos. Nesse aspecto, o biometano se encontra em posição de sinergia com o setor das usinas de cana-de-açúcar, além, é claro do segmento de saneamento. Porém, são necessários investimentos em toda a cadeia para que haja maior oferta. Signatário do Acordo de Paris, o Brasil mostrar sua capacidade de reduzir as emissões poluentes e o setor de biocombustíveis é uma estratégia de extrema importância no contexto.

Nos Estados Unidos, um exemplo contundente do uso do biometano na matriz energética do transporte. O condado de Los Angeles, na Califórnia, por meio da Autoridade de Transporte Los Angeles County Metropolitan (Metro), vem apostando no biocombustível para mover seus ônibus. Com metas ambientais definidas, a Metro iniciou a utilização do gás natural renovável, como eles chamam, no ano de 2017 em 10% de sua frota. O resultado foi uma redução de 3,5% nas emissões poluentes e a diminuição dos custos com combustível na ordem de 19%. Com essas vantagens, pouco tempo depois, metade da frota passou a ser abastecida com biometano, alcançando uma redução de 10% das emissões de gases de efeito estufa e uma economia de US$ 500 mil em combustível, além de gerar receitas extras com créditos de carbono. O próximo passo é adotar em 100% de seus ônibus o biocombustível antes da energia elétrica ser a principal fonte de tração, após o ano de 2035.

Para Ricardo Vallejo, diretor da Consulgas, além dos desafios que o segmento de transporte público vem se deparando na última década, há fortes movimentos em relação a transição energética, demandando do poder público avaliações em relação as alternativas de diversificação da matriz energética. “Neste contexto, o gás natural terá um papel relevante como está ocorrendo em outros países, como Estados Unidos, Colômbia, entre outros, provenientes de seu potencial de redução de emissões de poluentes (locais e globais) e sua competitividade em relação aos combustíveis concorrentes ao diesel, contribuindo para viabilidade econômica de sua aplicação nas grandes cidades. Não podemos esquecer que o desenvolvimento deste segmento é primordial para reforçarmos a entrada do gás natural renovável (biometano) nos próximos anos, o que reduziria as emissões de GEE entre 95% a zero ou até mesmo com saldo negativo, a depender da metodologia utilizada”, ressaltou.

Imagens – Divulgação, Metro LA e CIBiogás

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