O ônibus contribuindo com o monitoramento do ar

A decisão de instrumentar os trólebus foi estratégica, apesar de poder ser instalado em qualquer tipo de ônibus, a instalação em um trólebus elimina a dúvida que o sensor realmente está medindo o local por onde o ônibus passa

O pesquisador Alessandro Santiago dos Santos, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), está a frente de um projeto que visa aumentar a capacidade de aferição da qualidade do ar nas grandes cidades. Em seu doutorado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), ele mostrou que a instalação de sensores em ônibus melhora a precisão dos dados, pois os veículos têm uma regularidade de trajeto e os locais por onde passam, com alta concentração populacional, são referências para a coleta de dados.

Todas as informações coletadas são processadas e enviadas à um software no IPT que gera o mapeamento das machas de poluição. A revista AutoBus conversou por e-mail com Alessandro, que faz parte do Centro de Tecnologia da Informação, Automação e Mobilidade, sobre esse método inovador que objetiva fomentar políticas públicas para o combate das emissões poluentes.

Revista AutoBus – Qual o panorama sobre esse projeto para a medição da qualidade do ar, qual foi o intuito, o que procurou saber, avaliar?

Alessandro Santiago – Este projeto surgiu, conjuntamente com a uma tese de doutorado, onde se procurava ampliar a resolução dos mapas de qualidade do ar da cidade de São Paulo, em que nos moldes tradicionais promovem uma visão geral da área urbana, mas não permitem analisar com detalhes pontos específicos da cidade, como ruas, viadutos, esquinas, etc. Assim, a ideia era pesquisar alternativas que permitissem expandir a capacidade de análise por especialistas.

O IPT, dentro de um programa de estimulo a inovação, identificou o potencial da solução e realizou investimentos para a viabilização do projeto.

AutoBus – Desde quando foram instalados os sensores nos ônibus? Quantos veículos estão envolvidos?

Alessandro – Desde 2017, os testes vêm sendo feitos. A partir da implantação até 2018, o sensor percorreu a maioria das linhas de trólebus da cidade, por meio da instrumentação de dois trólebus.

AutoBus – Por onde eles rodam ou rodaram?

Alessandro – A decisão de instrumentar os trólebus foi estratégica, apesar de poder ser instalado em qualquer tipo de ônibus, a instalação em um trólebus elimina a dúvida que o sensor realmente está medindo o local por onde o ônibus passa. Assim, a grande parte dos locais mapeados envolvem o centro leste da capital paulista, por exemplo, a linha 2002-10 (Terminal Bandeira-Parque D. Pedro II).

AutoBus – Sabemos que a poluição é um dos temas com mais abordagem negativa, proporcionando efeitos nocivos à qualidade de vida. Mais do que medir a qualidade do ar, é preciso haver soluções que promovam uma significativa redução das emissões? Caso sim, quais seriam as propostas para esse fim?

Alessandro – Iniciativas de redução de emissões em larga escala são complexas, por exemplo, mudar rapidamente toda a frota veicular para veículos menos poluentes permeia uma série de etapas complicadas em termos de gestão.  A ideia do projeto é possibilitar analises mais detalhadas da área urbana, identificando pontos mais críticos com relação a concentração de poluentes. Assim, pode-se implementar políticas, que promovam mudanças prioritariamente em áreas mais críticas.

AutoBus – O transporte público feito pelo ônibus urbano busca se enquadrar na categoria de mobilidade limpa. Entretanto, ainda vemos poucas ações nesse sentido, com efeitos nada visíveis em relação a investimentos em tecnologias limpas, combustíveis alternativos, sistemas estruturais. O que é preciso para que isso se concretize?

Alessandro – A resposta para esta pergunta é o que se busca idealmente, mas a sociedade trabalha para encontrar este caminho. A melhoria da qualidade do ar abrange toda uma mudança cultural e estrutural de gerir as cidades e deve envolver toda a sociedade. As discussões sobre sustentabilidade ambiental ganham cada vez mais espaço, e iniciativas do cidadão, governo e empresas devem estar sintonizadas com os valores de preservação, cada vez mais necessários. Assim, não apenas o governo deve implementar políticas públicas para este fim, mas o cidadão deve se preocupar em estratégias de consumo consciente e empresas devem se preocupar em preservar o ambiente para as futuras gerações.

Imagem – Reprodução

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