Manchado e desmanchado

A desconstrução dos bons sistemas de ônibus urbanos brasileiros deve ser cobrada por todos aqueles que estão envolvidos com a formação de uma rede de mobilidade coletiva

O sistema carioca de corredores rápidos para ônibus é mais um exemplo de como o poder público pode esculhambar com algo que recebeu a rubrica de uma administração contrária a que está na ordem do dia, agindo negativamente no contexto operacional.

O BRT (Trânsito Rápido de Ônibus), composto por três corredores (um quarto está em construção, sem data para o início de sua operação), colocou o Rio de Janeiro numa posição de destaque referente a mobilidade urbana nacional, dando ao ônibus um caráter de modernidade e exclusividade no fluxo de seus serviços, permitindo assim ganhos na velocidade, no desempenho, no acesso de quem precisa utilizá-lo e na redução do tempo dos deslocamentos, aspectos essenciais para os cidadãos urbanos.

Mas esses benefícios não são suficientemente críveis para os gestores públicos, levando o sistema a sucumbir perante o humor nada favorável de uma administração municipal sem interesse pelo transporte público. Desde que assumiu a prefeitura carioca, o atual mandatário travou uma disputa de poder com as operadoras de ônibus, principalmente com o consórcio BRT, intervindo em sua operação após uma série de situações negativas que rebaixaram os níveis de satisfação dos serviços. A violência instaurada em um dos ramos do sistema, no corredor Transoeste, a mercê do poder marginal livre da mão do Estado, o desequilíbrio financeiro, o descuido com a infraestrutura e a falta de investimentos nos serviços compõem a lista que contribuem com uma imagem nada favorável.

Manchado e desmanchado

Como exemplo de um novo descalabro da prefeitura, foi anunciado há poucos dias que ônibus comuns poderão operar nos corredores. Para quem não tem conhecimento, um corredor de BRT utiliza veículos maiores, adequados à configuração estrutural planejada para atender um fim específico. São ônibus articulados e biarticulados que se harmonizam com as estações e vias, permitindo alcançar desempenho, tanto no volume de passageiros transportados, como na acessibilidade ao sistema.

A desconstrução dos bons sistemas de ônibus urbanos brasileiros deve ser cobrada por todos aqueles que estão envolvidos com a formação de uma rede de mobilidade coletiva benéfica ao meio ambiente e ao crescimento econômico e ordenado das cidades. Transporte público deve estar em sintonia com que a cidade necessita e não sob a tutela de um plano governamental instituído por um gestor que tem hora para iniciar e terminar seu mandato. É necessário atender a uma política de Estado, sem a intervenção deste ou daquele gestor com ideias mirabolantes e seus programas poucos nítidos.

No Rio de Janeiro, o BRT está manchado e, com o perdão do trocadilho, desmanchado, em virtude de políticas equivocadas e avessas à uma opção viável, tanto econômica, como operacional e ambiental, que o modal pode representar no cenário urbano. Tais interferências tendem a jogar por terra uma conquista que é para o bem da coletividade. É impossível imaginar que tais atos duvidosos possam ser praticados em um sistema metroviário, por exemplo, descaracterizando seu poder de eficiência. Não só os corredores estão em situação crítica na capital fluminense. O sistema de ônibus comuns também vive momentos nada confiante, com muitas empresas deixando de operar em meio a políticas inconsequentes que não dão segurança aos serviços.

Na terra do samba, o descompasso destoa o enredo da mobilidade sustentável e desejada.  

Imagens – Arquivo

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