Incentivo que falta ao ônibus

Não custa ressaltar que os sistemas de ônibus precisam ter uma operação prioritária, disponibilizando condições favoráveis à quem utiliza seus serviços, ser rentável, dispor de apoio quanto a financiamento

Editorial

Em 1976, o Governo Federal criou a EBTU (Empresa Brasileira de Transportes Urbanos) com o intuito de gerir os recursos do Fundo de Desenvolvimento dos Transportes Urbanos. Na época de sua criação, havia a preocupação relacionada ao quadro de consumo de combustível, com percentual gritante para o transporte individual, que queimava 80% de todo o volume utilizado nas grandes cidades do Brasil. Realmente era um índice expressivo para um país não tão urbano.

Com a criação do referido órgão, a meta era reduzir o consumo de gasolina e ao mesmo tempo incentivar o uso do ônibus urbano comum, pois naquele tempo apenas Curitiba estava a frente das demais cidades no tocante a planejar uma rede de transporte feita pelo veículo. Além disso, o metrô era uma novidade em meio aos serviços urbanos de mobilidade, sendo uma opção a mais para tirar os carros das ruas.

A EBTU também foi a responsável por dar suporte técnico e financeiro à implantação de uma grandiosa rede de trólebus na capital paulista (fato que não se concretizou) que seria capaz de reduzir o consumo de combustíveis fósseis e ao mesmo tempo diminuir os impactos negativos causados pela poluição veicular. Infelizmente, a estratégia ambiental não alcançou sucesso e os corredores de ônibus elétricos foram parcialmente implantados.

Isso não significa dizer que o órgão federal não foi competente em sua história, pois contava com técnicos engajados à causa do transporte e seu empenho promovia um papel de liderança no segmento, desenvolvendo pesquisas tecnológicas, além de oferecer apoio às gerências estaduais e municipais no tocante a remodelar os sistemas existentes nos anos passados. Porém, também é preciso lembrar que a instituição pública não alcançou o sucesso em todas as suas iniciativas em virtude da falta de visão de planejamento dos administradores municipais em promover melhores condições operacionais ao modal ônibus, situação típica encontrada na maioria da cidades brasileiras, que ao longo dos anos não investiram na modernização de seus sistemas de transporte coletivo, mesmo contando com esse apoio. A extinção da EBTU se deu em 1991, deixando uma lacuna quanto as medidas federais a respeito de projetos e fomentos dedicados ao transporte urbano. E, até nos dias atuais, sentimos a falta de um organismo governamental dedicado e compromissado com as questões da mobilidade. A gestão pública se transformou em ordem política, com planos e metas de governo, e não políticas de Estado, com ênfase ao desenvolvimento urbano com sustentabilidade nos pilares ambiental, social e econômico.

Nisso, os serviços de ônibus urbanos, guarnecidos por esse aspectos negativos, veem se ressentindo, no decorrer das décadas, quanto as condições restritivas presenciadas nos seus cotidianos, em razão da carência de políticas públicas e investimentos ao modal. É notória a mobilização ao transporte individual feita por diversos segmentos de nossa sociedade, enquanto que o modelo coletivo, realizado amplamente pelo ônibus urbano, não recebe a devida atenção de nossos governantes. Portanto, a necessidade por mudanças é real, objetivando uma nova imagem do segmento em meio ao desequilíbrio dos deslocamentos.

Mais uma vez, não custa ressaltar que os sistemas de ônibus precisam ter uma operação prioritária, disponibilizando condições favoráveis à quem utiliza seus serviços, ser rentável, dispor de apoio quanto a financiamento e um suporte quanto a um considerado programa de avaliação de sua performance e das tecnologias que possam ser adotadas quanto a reduzir as suas emissões poluentes. Este espaço sempre cobrará providências.

Incentivo que falta ao ônibus
Na época da criação da EBTU, os ônibus com ar-condicionado começavam suas operações em serviços urbanos seletivos 

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