FNM e o sonho da cidade industrial

Após o final do conflito mundial, o intuito que deu origem à FNM na fabricação de motores para os aviões caiu por terra e alguns anos depois a fabricante se enveredou para o segmento automobilístico

Nestes dias de quarentena, cumprindo com o nosso papel para reduzir ao máximo os efeitos negativos de uma doença que não mede esforços para atacar a saúde humana, tive a oportunidade de reler o livro Estado Patrão, o caso da FNM, de autoria de José Ricardo Ramalho, revelando uma breve história de relação entre a montadora brasileira (já extinta) e seus funcionários, além de sua constituição como fábrica de motores para avião.

A Fábrica Nacional de Motores ou simplesmente FNM ou ainda Fenemê, nasceu com o propósito de produzir motores para avião em pleno acontecimento mundial – a Segunda Grande Guerra – no ano de 1942. Obra do Governo de Getúlio Vargas, sob a responsabilidade do Brigadeiro Guedes Muniz, a planta da FNM foi instalada em Xerém, distrito da cidade fluminense de Duque de Caxias, em uma área inóspita, de difícil acesso e dominada pela malária. Os desafios, desde o início, foram enormes para a implantação dos primeiros prédios e a formação de mão de obra essencial para a produção dos propulsores aeronáuticos. Aliás, a formação técnica dos trabalhadores foi, desde o princípio, um audacioso plano do Brigadeiro para promover condições dignas às pessoas que lá tinham suas funções.

FNM e o sonho da cidade industrial
Ônibus FNM do ano de 1970 preservado

Numa época em que o Brasil dependia da importação de veículos automotores e não tinha nenhuma experiência na fabricação de aviões, alçar voos rumo a evolução tecnológica por meio de uma indústria moderna e capacitada era a estratégia do Governo Federal para transformar o País, por meio da construção da cidade dos motores ou industrial. No começo da fábrica, destacou a disciplina militar imposta aos trabalhadores e ao mesmo tempo a preocupação em capacitar a mão de obra, com a oferta de refeições, assistência médica, habitação e transporte, elementos marcantes no equilíbrio entre a produção e o bem-estar humano.

Após o final do conflito mundial, o intuito que deu origem à FNM na fabricação de motores para os aviões caiu por terra e alguns anos depois a fabricante se enveredou para o segmento automobilístico, sua verdadeira vocação, com o início da produção de caminhões, primeiro sob a licença da marca italiana Isotta Fraschini e depois com a cooperação de outra italiana, a Alfa Romeo S/A. Tais veículos, já na década de 1950, ficaram conhecidos pelo apelido de João Bobo, em virtude de sua resistência e capacidade de carga. Também os chassis para ônibus saíram da planta de Xerém, caracterizados para o transporte pesado em rotas urbanas ou rodoviárias. Além dos veículos comerciais, a montadora produziu automóveis por um tempo.

A FNM ficou sob o domínio estatal até 1968, quando então foi privatizada, tendo seu controle assumido pela Alfa Romeo/Fiat. Os motivos para o negócio indicavam o prejuízo ao Tesouro Nacional e a consequente desatualização tecnológica de seu parque fabril e dos conceitos veiculares, porém, o livro também ressalta que a saúde financeira da montadora permitia sua permanência no mercado, fato constatado por uma equipe constituída pelo próprio Governo para a análise e avaliação de sua contabilidade.

A divergências ainda foram vistas no lado laboral, com conflitos de interesses entre os funcionários e administração da empresa, ainda na época sob o manto governamental, e depois, já nas mãos dos controladores privados. Se no início o ousado plano era estabelecer uma formação técnica, profissional e humana de quem lá trabalhava, ao longo dos anos, muita coisa mudou, com a presença de sindicatos e uma forte atuação política local.

A Fiat deixou de produzir seus caminhões no Brasil na década de 1980 e a sigla FNM ficou no legado histórico do setor automotivo brasileiro, reconhecida pelo pioneirismo ao proporcionar a evolução da atividade industrial brasileira, mesmo quando esta ainda engatinhava por aqui, empregando métodos inovadores, com uma visão de futuro de longo prazo.

Imagens – Reprodução e Revista AutoBus

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