Esse pobre transporte público

Aqui, o conteúdo não tem a intenção apenas de escancarar com o que está em péssimo estado, mas sim propor e estimular as mudanças que tantos anseiam aos sistemas de ônibus urbanos

Reeditado 

Em diversas partes do País, problemas de ordem financeira têm causado insatisfações com o setor de transporte público, mais especificamente os serviços de ônibus urbanos. Os aumentos dos valores das passagens, atribuídos à reposição da inflação anual e aos custos operacionais cada vez mais elevados, foram e são motivos de manifestações públicas em muitas cidades.

Voltemos a 2013, quando movimentos populares deram início aos seus desagrados pelo reajuste de R$ 0,20 nas tarifas do transporte coletivo. Aquele momento deveria ter sido uma oportunidade para o início das transformações que os brasileiros tanto querem. Infelizmente, pela ausência de lideranças e de ideias minimamente elaboradas, comprometidas com a causa (características desse inédito estilo de movimento popular baseado em chamadas de grupos do aplicativo Whatsapp e da rede social Facebook), ficamos somente na vontade de que os serviços públicos essenciais que tanto afetam o bem-estar social de fato mudassem. As iniciativas políticas que poderiam favorecer a sociedade e a estrutura urbana limitaram-se ao congelamento temporário do preço das tarifas de transporte. E nada mais.  

Passados seis anos, os serviços de ônibus urbanos continuam sofrendo com a falta de prioridade, da concorrência com outros modais de transporte e da letargia dos gestores públicos em reconhecer o quão é essencial esse modal na vida das cidades. Com isso, ideais de uma possível melhoria nas condições sociais surgem no horizonte, como os movimentos pró tarifa zero que pegam carona na adoção de políticas que favoreçam certos setores da sociedade brasileira. Entretanto, a questão é bem mais profunda e complexa, envolvendo a participação da gestão pública, da sociedade, dos operadores e da criação de políticas públicas.

No lado do operador, a eterna reclamação de que os reajustes tarifários nunca são suficientes para cobrir os custos operacionais, comprometendo diretamente a qualidade dos serviços – o que denota que os recursos são de fato escassos.  Embora seja uma prática comum nos outros países, contam-se nos dedos as cidades que subvencionam o transporte coletivo no Brasil.

Por outro lado, para alcançarmos o passe livre, é necessário um fundo público que arque com os custos. De onde viriam tais recursos? Da taxação sobre combustíveis e do uso do automóvel em algumas regiões, da contribuição do já castigado cidadão brasileiro, do orçamento federal, estadual, municipal? São respostas ainda aguardadas pelos envolvidos no transporte. Por aqui, as passagens de ônibus é quem cobrem os custos (99,9%) e geram o percentual de lucro ao operador. Se o Estado quer assumir tal responsabilidade, como alguns municípios já se mostraram a favor, que pensem bem antes de promover o que pode ser reconhecida como uma jogada oportunista.

Pelo lado da modernidade, os aplicativos de transporte, com suas plataformas delineares de atração de um público que foge do ônibus, ganham espaço com suas ferramentas de aglutinar diversos modais, do automóvel até o próprio ônibus, proporcionando a desconstrução dos sistemas enraizados no cenário e que não acompanharam a dita evolução dos conceitos. É uma contradição vermos que esses aplicativos são valorizados perante a mobilidade, enquanto o ônibus, sem o investimento para a sua devida qualificação, “bate lata” cada vez mais. Vivemos o chamado baypass (do significado em inglês como desviar, dar a volta ou contornar em torno de algo), sem encarar e nem mesmo resolver de forma sensata os problemas.

Mesmo em períodos de águas calmas, os administradores públicos das médias e grandes cidades, em sua maioria, não tratam o tema transporte público (diga-se ônibus urbanos) com a sua merecida atenção. Pouco ou nada buscam modificar a imagem negativa que acompanha o modal, salientada constantemente pela mídia (com toda a razão) por promover aos passageiros em seus deslocamentos as muitas dificuldades oriundas da carência de capacitação dos sistemas.

Pobre transporte público brasileiro que vive das migalhas dos gestores públicos, que o ignoram e não sabem o que é andar de ônibus. Salvo raras exceções, os sistemas urbanos de ônibus do Brasil foram para a lona. Mas, esta é a hora da virada da mobilidade sustentável, ágil, eficiente, limpa e com toda prioridade que merece – nas ruas e nos gabinetes.

Arte – Osvaldo Born

A melhor maneira de viajar de ônibus rodoviário com segurança e conforto

Ônibus movido a biometano, por Juliana Sá, Relações Corporativas e Sustentabilidade na Scania

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