Descompasso ambiental

O diesel é o principal combustível na matriz energética dos sistemas de transporte na América Latina, sendo ele um dos grandes vilões no cenário urbano no tocante a poluição.

Tudo indica que a rigidez no controle das emissões poluentes dos motores a diesel para os veículos comerciais brasileiros será aplicada daqui a cinco anos. A Câmara Técnica de Qualidade Ambiental e Resíduos do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) decidiu pelo ano de 2023 (ainda falta aprovação pelo Conselho, prevista para 28 de novembro deste ano) como data base para a substituição dos atuais requisitos da norma Euro V pelas especificações da  norma Euro VI, bem mais exigente no combate às emissões. Se fizermos um comparativo com o que a Europa promoveu, observaremos que teremos um gap de 11 anos, pois o mercado europeu passou a adotar a Euro VI em 2012.

O diesel é o principal combustível na matriz energética dos sistemas de transporte na América Latina, sendo ele um dos grandes vilões no cenário urbano e estando na berlinda das discussões sobre um ambiente mais limpo e no combate aos efeitos negativos das mudanças climáticas. O seu uso em excesso tem provocado, ao longo dos anos, consequências irreversíveis, impactantes na saúde pública e na qualidade do ar que respiramos.

Entretanto, não podemos descartá-lo da noite para o dia, em função de sua massiva presença nas frotas de ônibus e caminhões. Se há uma grande mobilização mundial que objetiva a sua substituição por outros tipos que sejam renováveis ou mesmo de baixo carbono, no Brasil ainda teremos um longo caminho até que se deixe totalmente de usá-lo. Na transição para algo mais limpo ainda conviveremos com veículos tracionados por motores de combustão interna, o que é possível mediante o emprego de tecnologias de controle de emissões e de combates as fraudes.

Mas, é preciso um start. Se o País não toma essa iniciativa, outros países das Américas puxam a fila para introduzir a norma Euro VI (diga-se de passagem, que possa ter o mesmo rigor em seu conteúdo presente na versão europeia). A capital chilena, Santiago, é um exemplo positivo ao apresentar recentemente uma nova geração de ônibus urbano para ser operado em suas ruas. São veículos cuja configuração traz a motorização a diesel com baixos índices de poluentes NOx e MP, respectivamente óxido de nitrogênio e material particulado.

Bogotá, na Colômbia, por meio de seu consagrado sistema de transporte coletivo, o Transmilenio, está promovendo o processo de atualização tecnológica de seus ônibus, objetivando veículos com um reduzido índice de emissões poluentes. Na cidade do México também há o interesse pela operação de um motor a diesel mais limpo. As autoridades públicas locais já estabeleceram prazos para a introdução da normativa europeia atual e as   montadoras mexicanas de veículos comerciais estão atentas ao contexto. 

Em meio as discussões sobre como reduzir as emissões poluentes do setor de transporte paulistano, a cidade de São Paulo poderia adotar, de modo flexível, os motores em atendimento a referida norma, afinal, o Brasil é considerado um centro de desenvolvimento das muitas fabricantes europeias de chassis para ônibus, fato que não traria qualquer problema para elas aproveitarem a autorização de antecipar a utilização dos veículos Euro VI, incluída no texto do CONAMA, e nos fosse dada a oportunidade de uma atuação paralela em testes e avaliações, aspecto que poderia permitir nossa atualização tecnológica.

Cabe aqui lembrar que no caso dos ônibus para Santiago eles serão importados, representando um maior custo, pois não há no Chile uma indústria local capaz de atender o mercado. Se não estivéssemos nesse descompasso ambiental, nós poderíamos ser o fornecedor da tecnologia e não ter que aguardar mais quatro ou cinco anos até nos ajustarmos, tardiamente.

Imagem – Reprodução

A melhor maneira de viajar de ônibus rodoviário com segurança e conforto

Ônibus movido a biometano, por Juliana Sá, Relações Corporativas e Sustentabilidade na Scania

Posts Recentes

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *