“A tecnologia dos motores dos ônibus precisa evoluir”

O ônibus precisa ser tratado com a devida importância que lhe cabe, se inserindo no sistema de transporte público dentro de suas potencialidades e limitantes.

A revista AutoBus conversou com Marcel Martin*, coordenador do portfólio de transporte do ICS (Instituto Clima e Sociedade) sobre o papel do ônibus urbano no desenvolvimento das cidades. Como é de conhecimento, há uma busca por novos modelos de transporte com um caráter ambiental que não promova aos cenários urbanos impactos negativos causados pela poluição dos tradicionais meios de propulsão. E o modal ainda é fundamental para o futuro das áreas urbanas.

Revista AutoBus –  Para o ICS, ainda é preciso um avanço nos conceitos do ônibus urbano para que o modal possa fazer jus ao seu papel nas cidades como agente contribuidor do desenvolvimento sustentável?

Marcel Martin – Sim. O ônibus precisa ser tratado com a devida importância que lhe cabe, se inserindo no sistema de transporte público dentro de suas potencialidades e limitantes. A tecnologia dos motores precisa evoluir acompanhando as tendências de eficiência energética, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa e poluentes locais. Os ônibus também devem ter seu espaço garantido no sistema viário, que necessita ser delimitado e priorizado frente aos demais modos motorizados. Isso gera maior confiabilidade do sistema, reduzindo tempo de viagens e externalidades. 

“A tecnologia dos motores dos ônibus precisa evoluir”
Marcel Martin

AutoBus – Atualmente, corredores exclusivos do tipo BRT dão uma nova conotação aos serviços. É preciso mais que isso para que o sucesso do ônibus alcance um maior patamar?

Marcel – Os sistemas de BRT dão um importante passo ao definir uma calha exclusiva para os ônibus no sistema viário – com ultrapassagens em pontos de parada e maior controle de operação (com centros de controle integrado), provendo maior confiabilidade e informação aos usuários. Contudo, para que esse sistema estruturado possa utilizar sua máxima capacidade, é importante que linhas alimentadoras sejam organizadas, sem que haja perda na cobertura do atendimento para os usuários.

AutoBus – Em termos de sustentabilidade ambiental, o ônibus é visto como um aliado para que haja redução das emissões poluentes do setor de transporte. Para o ICS, quais outros atributos que o veículo pode apresentar para que o ambiente urbano seja mais limpo, livre das emissões?

Marcel – A tecnologia dos motores dos ônibus precisa evoluir. No Brasil, o biodiesel é um importante componente, que poderia ser melhor aproveitado na mistura dos combustíveis. Contudo, é inegável o avanço da eletromobilidade. Importante ressaltar que, para além da questão tecnológica, é importante sempre priorizar o transporte público sobre os demais modos motorizados. Também é relevante a necessidade de maior integração intermodal, facilitando a integração com bicicletas (através de bicicletários em terminais e suportes para transporte nos veículos) e a qualificação de pontos de parada terminais e acesso para pedestres. Dessa forma, promove-se maior atratividade a esse modo, favorecendo a transferência modal.

AutoBus – Trações alternativas, e principalmente a eletromobilidade, têm se configuradas como opções ao tradicional diesel. Neste momento, há um grande desafio que é o custo de uma nova tecnologia adotado no setor e na operação. Como o ICS vê uma transformação de conceitos no atual cenário?

Marcel – Algumas lacunas ainda precisam ser solucionadas quando falamos de eletromobilidade para ônibus, contudo, é uma tendência que vem se afirmando. A questão do custo deve rapidamente ser superado pelos avanços da tecnologia e da indústria. Ainda assim, atualmente se compararmos os custos de manutenção com ônibus a diesel, os ônibus elétricos parecem já ser muito competitivos. Importante também é olhar para questão das baterias que ditam a autonomia, pois o tempo de recarga é um importante elemento para sucesso na operação. Os responsáveis pela concessão e operação dos ônibus, assim como toda sociedade, também precisam se conscientizar das externalidades causadas pelo uso de motores a combustão – que, se computadas, não deixam dúvidas sobre a importância de se descarbonizar os meios de transporte, que é um grande responsável pelas emissões em meio urbano. Contudo, esse avanço deve sempre ser olhado pela ótica do usuário do transporte público para que a tarifa seja acessível. O custo do avanço tecnológico não pode onerar os usuários. Nesse sentido, é importante explorar outras formas de financiamento do transporte público.  

*Marcel Martin é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Planejamento e Gestão de Território pela UFABC. Entre suas experiências profissionais, trabalhou com a coordenação de grandes projetos voltados para a área de planejamento urbano, transporte e mobilidade com equipes multidisciplinares. De 2009 a 2016, Marcel atuou como desenvolvimento de estudos de transporte – dentre eles, Planos Diretores e de Mobilidade. De 2016 a 2018, trabalhou no Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) com a gestão e coordenação técnica dos produtos previstos do programa de mobilidade urbana de baixo carbono. No ICS ele é o novo coordenador do portfólio de transportes, iniciando suas atividades a partir do mês janeiro de 2019.
 

Imagens – Jorge dos Santos e ICS

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