A poluição de outrora

O exemplo do que acontece hoje com essa substantiva redução das emissões poluentes, apesar de ser uma exceção em nosso cotidiano, pode servir de providência para que, assim que terminar esse período crítico da pandemia, possamos repensar os sistemas de transporte

Editorial 

Há mais de 50 anos, uma das edições da revista Exame chamava a atenção para o mal causado pela poluição. De acordo com a matéria, sete em cada 100 crianças já sofriam de algum problema oriundo das emissões poluentes, que naquela época já estaria modificando o meio ambiente e tornando o ar irrespirável nas grandes cidades. E, a Grande São Paulo, tinha a honra duvidosa de ser a região mais poluída da América Latina, conforme disse o texto. Além da capital paulista, outras localidades do estado também já sentiam os efeitos negativos dos gases poluentes. Cidades como Bauru e Santos contavam com ambientes contaminados.

Cinco décadas depois, o problema continua. Apesar de medidas e ações antipoluição, a saúde pública se mantém refém desse mal. O excesso de veículos automotores nas ruas das médias e grandes cidades, além da queima de combustíveis fósseis para a geração de energia, têm provocado uma alta taxa de doenças respiratórias e cardiovasculares, como também um grande número de mortes. O Brasil adotou programas governamentais para mitigar a poluição veicular, como também no controle das emissões industriais. Porém, ainda é pouco para a manutenção da qualidade de vida dos habitantes. Somente na área metropolitana de São Paulo, estima-se mais de seis mil mortes relacionadas com esse aspecto (Instituto Saúde e Sustentabilidade). É um mal que age silenciosamente, provocando danos irreparáveis. É preciso maior mobilização para alcançarmos um ambiente livre do carbono.

Um bom exemplo sobre isso pode ser visto neste momento em que vivemos a pandemia da Covid-19. O jornal Correio Brasiliense ressaltou que em São Paulo é possível observar uma queda no percentual dos índices de poluentes, chegando a 50% a redução de monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio durante a quarentena. A análise foi feita pela professora Maria de Fátima Andrade, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). Ela observou, ainda, uma diminuição de 30% de material particulado. Segundo o editorial, o monóxido de carbono é oriundo dos veículos automotores leves, enquanto o dióxido de nitrogênio sai dos escapamentos de veículos comerciais pesados. Além de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Goiânia, Curitiba, Salvador e Belo Horizonte também sentiram efeitos positivos, com um ar mais limpo em virtude da diminuição da circulação de veículos durante a quarentena.

O exemplo do que acontece hoje com essa substantiva redução das emissões poluentes, apesar de ser uma exceção em nosso cotidiano, pode servir de providência para que, assim que terminar esse período crítico da pandemia, possamos repensar os sistemas de transporte, com destaque para a racionalização dos serviços e incentivos à mobilidade coletiva e meios não motorizados, como a bicicleta e as caminhadas. Nesse contexto, rever os sistemas de ônibus urbanos, dando prioridade ao modal com a inclusão tecnológica de uma matriz energética limpa, a rapidez em seus serviços e a rentabilidade merecida, representa uma solução ambientalmente correta. Entretanto, quando falamos em inovação para o segmento, os cifrões já saltam aos olhos com certa reserva dos envolvidos com o setor. Afinal, os custos operacionais ainda determinam o ritmo das mudanças e, novamente repetindo, é preciso o estabelecimento de políticas públicas para o incentivo e o financiamento aos serviços em território brasileiro. Assim como os sistemas sobre trilhos que recebem subvenção, os ônibus devem ter apoio para a adoção de um conceito moderno e ambiental. Nos países de primeiro mundo, fundos financeiros suportam o transporte coletivo e o uso da tecnologia limpa. Devemos seguir o exemplo.

Será um desafio expressivo reafirmar esse tema, pois as agendas governamentais estarão voltadas para a recuperação da economia afetada pelo sobressalto do coronavírus. A poluição de outrora continua presente em nossas vidas e precisamos modificar essa realidade.

Imagem – Reprodução revista Exame de 1970

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